É possível sonhar, graças a Raúl Madrid

O Campeonato espanhol desta temporada é assim: o Barça com aquele futebol exuberante de sempre, marcando muitos gols; tudo graça ao trio Messi, Henry e Eto'o. Se o Barcelona parece nunca mudar, nem quando Ronaldinho deixou o time e Messi assumiu a condição de astro do time, o mesmo acontece com o Real Madrid. Os merengues, ao contrário dos blaugranas, não precisam de um grande astro. Porque Raúl, desde... desde 1994, é o comandante deste time. Mesmo na época de Beckham, Zidane e Ronaldo, era em Raúl que o Madrid encontrava seu porto-seguro. Hoje, ele provou a seu amor e sua dedicação pelo Madrid novamente.

O Barcelona empatou com o Valencia (4º), ontem, no Mestalla: 2 a 2. Não foi exatamente um tropeço, porque o Valencia, apesar de ter problemas quando joga em casa, não costuma vender vitórias fáceis para o Barça. A tarefa do Real, com o empate do rival catalão em mente, era vencer o Sevilla (3º) no sempre hostil Ramón Sánchez Pizjuán. Começou mal: o Sevilla, com o não tão gigante Renato, abriu o placar de cabeça. Raúl virou. Aos 45,' depois de cross de Metzelder. Aos 18' do segundo: Torres tocou da esquerda, a bola desviou em Renato, e Raúl marcou ao estilo Raúl, batendo firme de esquerda para o gol (foto: AFP/Marca). E ampliou aos 21: Palop, uma vez heroi sevilliano, hoje foi vilão; soltou a bola no pé de Raúl, que não desperdiçou. Capel descontou. Mas Marcelo, talvez o melhor da partida depois do goleador-capitão, anotou o quarto.

E são quatro os pontos que separam o líder Barça do vice Real. Próxima rodada (34ª), no Santiago Bernabéu, Raúl Madrid encara o Barcelona. E, talvez neste embate, o campeonato enfim seja definido.

Resultados e classificação de La Liga no Marca.

Arshavin 4x4 Liverpool

Terminadas a Copa da Uefa e a Eurocopa 2008, grandes atuações de Arshavin por Zenit e seleção russa, e eu ainda não estava convencido de que o futebol dele era realmente bom. Até hoje. Liguei a TV e o placar mostrava 1 a 0 para o Arsenal. Desligo a TV e 4x4 brilha no marcador. Que jogo! Foi a versão do campeonato inglês de Liverpool 4x4 Chelsea, partida já mítica da Liga dos Campeões disputada há exatamente uma semana. Quatro gols de Arshavin pelo Arsenal. Dois de Benayoun e dois de Torres pelo Liverpool.

Se bem que a zaga do Liverpool contribuiu, de maneira decisiva, para que o placar ficasse tão extenso. No primeiro gol de Arshavin, falha de Mascherano na saída de bola, 36'. A seguir, 49', Torres, imprimindo à bola uma velocidade incrível, iguala. Aos 56', Benayoun por pouco não perde a cabeça no lance, mas consegue empurrar a bola o suficiente para que entre, apesar do choro de Fabianski. Arshavin, aos 67', aproveita erro grotesco de Arbeloa depois de passe de Carragher, avança, bate colocado e forte à meia altura, canto esquerdo de Reina. E manda a torcida fechar o bico (foto: Getty Images/BBC). A virada dos gunners veio em nova falha: Fabio Aurelio cortou mal e deu um verdadeiro passe para Arshavin marcar o terceiro dele e do Arsenal. Torres, aos 72', recebe na área e faz aquilo que sabe de melhor: domina com segurança de costas para a zaga, gira e bate rasteiro. Mas, já aos 90', Walcott aproveita corte mal feito da zaga do Liverpool e avança velozmente pela direita; Arshavin se move pelo meio. Próximo da área, o inglês toca para a esquerda e o meia russo arremata para o gol. Não muito depois, confusão pelo alto e Benayoun, no chão, empata e fecha o placar.

Jogo sufocante, equipes com futebol absolutamente ofensivo e resultado surpreendente. Quem gostou mais ainda disso tudo foi o Manchester. Amanhã, contra o Portsmouth, a equipe poderá retomar a liderança, se vencer em casa. E com um jogo a menos que o Liverpool, o título estará muito próximo das mãos dos red devils. O Chelsea, com 67 pontos, quatro a menos que os líderes, aguarda o fim do campeonato e está concentrado no Barcelona. O Arsenal, quarto com 62, oito a mais que o Aston Villa, também só pensa em Liga dos Campeões, mais especificamente, no Manchester.

Resultados e classificação da Premier League no BBC Sport.

Mais afiado, impossível

Desculpem-me o trocadilho. Mas foi inevitável. É que o Grafite, lembra dele?, saiu do Brasil como atacante ainda em formação, e em 2009 pode se consagrar como o estrangeiro mais importante da Bundesliga. O Wolfsburg, time pelo qual ele atua, passou de mediano para favorito ao título: hoje é líder, com três pontos a frente do Bayern. E a diferença para os (antigamente) poderosos bávaros talvez se deva a um certo jogo da 26ª rodada.

Os lobos bateram os bávaros por 5 a 1, com dois gols de Grafite (um deles, que o destaque seja dado, foi uma verdadeira obra-prima digna de Van Basten). Ontem, a vítima foi de nome parecido: o Bayer, 2 a 1, com dois do brasileiro (foto: AP/Terra). Vinte e dois no campeonato e liderança na artilharia e na tabela de classificação. Será que já merece Seleção?

Resultados e classificação da Bundesliga no Futebol Alemão por Gerd Wenzel.

Luto vermelho e esperança azul

Gerrard e Terry, machucados, frágeis capitães, assistiram a tudo do banco (veja em fotos no The Guardian). A partida mais emocionante desta edição da Liga dos Campeões, e porque não dizer, desde o título milagroso do Liverpool em 2005, foi apoteótica, epifânica, de encher os olhos. Liverpool, 2 a 0 no primeiro tempo. No segundo, Chelsea, 3 a 2. Depois, réplica dos reds: 4 a 3. E no fim, graças à competência do capitão substituto Frank Lampard (foto: AFP/Marca), 4 a 4, e vaga na semifinal.

No dia em que os torcedores do Liverpool lamentaram, com cartazes e faixas, a tragédia de 20 anos atrás, quando 96 fãs do clube morreram e 766 saíram feridos em desastre ocorrido no estádio Hillsborough (semifinal da Copa da Inglaterra contra o Nottingham Forest; veja detalhes no especial da BBC), a maioria azul em Stamford Bridge celebrara o presente da esperança pela conquista de um título inédito. A maior rivalidade, eu arriscaria dizer, desta década no futebol europeu teve um fim digno da monstruosa tradição do Liverpool e da invejável sagacidade do Chelsea.

Outra rivalidade notável dos últimos tempos se coloca em uma das semifinais: Chelsea e Barcelona. Depois de tudo o que aconteceu hoje, os blues estão preparados para enfrentar qualquer adversário. Até mesmo este impressionante Barcelona.

Aconteceu o inevitável

Não vou mentir. Desde os tempos de Flamengo, eu gostava do futebol do Adriano. E quando ele se mudou para a Itália e, depois de algum tempo, começou a jogar com a 10 na Inter de Milão, fiquei ainda mais fã dele. Adriano era forte, veloz, inteligente, potente, mas carregava um sorriso enorme, meio tímido e sincero.

Nesta quinta-feira, todo mundo sabe, Adriano disse que vai parar temporariamente com o futebol. Negou depressão, negou problema com mulheres e sim afirmou que perdeu a alegria de jogar. Mas o que ele não pode refutar é seu histórico mergulhado em problemas pessoais. Depois da morte do pai, Almir Leite Ribeiro, em agosto de 2004, a vida de Adriano nunca mais foi a mesma. É o que pessoas próximas diziam na época. E é o que vemos em sua postura desobediente no esporte e desregrada fora dele.

Ele não sabe quando voltará a jogar. E ninguém sabe em que estado, físico e emocional, Adriano voltará aos campos. Esperamos que do mesmo jeito como apareceu no Flamengo e marcou época no futebol italiano. Com aquele sorriso espaçoso, olhos escondidos e braços agradecidos a Deus pelo tremular das redes.