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domingo, julho 11, 2010

A vez da Fúria

Nunca os torcedores do Real Madrid comemoraram tanto um gol marcado por um jogador do Barcelona. Claro, o gol de que estou falando não foi marcado contra os merengues. Estou falando do momento máximo da história do futebol espanhol: o arremate certeiro de Iniesta (Kerim Okten/EPA), a 116' de jogo, que ainda foi tocado de leve por Stekelenburg antes de encontrar as redes. Foi a segunda vez na história em que merengues e blaugranas se abraçaram como se Real e Barça fossem um único time -- a primeira, na Euro. Quando a Holanda abdicou um pouco do futebol total, parecia que havia chegado a hora de enfim vencer um mundial. Nem assim deu certo. Aliás, ainda bem que não deu certo. Anti-jogo não merece vencer, nunca. O time campeão europeu em 2008, que vinha jogando o futebol mais agradável de se assistir nos últimos anos, agora ganhou o mundo.

É a primeira vez que uma seleção europeia vence a Copa fora do velho continente. E também a primeira vez que um time que perde na estreia consegue o campeonato. Acima de tudo, o futebol bonito -- ainda assim longe da perfeição -- foi o grande campeão na Copa da África.

sábado, julho 03, 2010

Futebol total

Quatro gols na Austrália. Quatro gols na Inglaterra. E mais quatro na Argentina. Essa Alemanha vem fazendo uma Copa do Mundo com um futebol esplêndido, como nunca se viu na seleção tricampeã do mundo. E ficou claro que Maradona deveria ter prestado um pouco mais de atenção em sua defesa. Não estou falando que a ausência de Cambiasso e Zanetti foi decisiva, mas da falta de solidez dos beques, que, diante de um ataque avassalador, fracassaram -- Otamendi, coitado. A seleção mais jovem do mundial joga atrás, esperando o adversário, e responde com contra-ataques implacáveis. A começar pela defesa: ninguém dá chutão; a bola sempre sai nos pés do capitão Lahm ou Boateng, um lateral esquerdo grandalhão que não é nem um pouco grosso. Khedira e Schweinsteiger (foto: Paul Gilham/FIFA via Getty Images) costumam receber no meio-campo e distribuem as bolas para os meias avançados, Ozil, Mueller e Podolski. E Klose aniquila -- a um gol do maior artilheiros de todos os mundiais, Ronaldo. E cadê o pragmatismo alemão? Desconheço. Não há volantes truculentos, violentos. Só meio-campistas leves, que sabem tocar a bola. Também não há craques. Mas há excelentes atletas que jogam pensando na coletividade, como Schweinsteiger (muito mais jogador que Ballack) e Ozil. A Alemanha se parece muito com o Brasil que gostaríamos de ter visto no segundo tempo de ontem.

A reedição da final da Euro 2008 tem um favorito.

sexta-feira, julho 02, 2010

La Mano de Dios 2

A seleção de Dunga era conhecida por ser excessivamente defensiva. Ruiu em dois lances de bola parada, fragilidade histórica da zaga canarinha desde que o futebol existe. Felipe Melo começa o jogo oferecendo a Robinho um passe espetacular para o gol que abriu caminho para o melhor primeiro tempo brasileiro na copa. No segundo, as expectativas negativas que rodeavam o volante se concretizam, e eis que Felipe Melo perde a cabeça depois do primeiro gol contra brasileiro em mundiais (dele) e da improvável virada adversária, e é retirado de campo após ser apresentado ao tão aguardado cartão vermelho, coisa que, cá pra nós, todo mundo temia desde as primeiras convocações.

Não me lembro de ter ouvido tanta gente dizendo que ia torcer contra o Brasil como em 2010. Ou tanta gente tão desconfiada com os 23 selecionados. Ou com o treinador da equipe. Tanta insegurança provou não ser nem um pouco irracional neste 2 de julho.

Algumas horas depois, Uruguai e Gana saíram de campo extasiados. Os sul-americanos, com uma vitória que parecia impossível -- bem a cara deles. E os africanos, com um sentimento de que o mundial não deveria ter se encerrado tão cedo para o continente. Os minutos finais foram os mais dilacerantes que já vi na história do futebol. Não é preciso dizer mais nada.

Os uruguaios, inexistentes em mundiais há 40 anos, voltaram a ser celestes graças a Forlán, o craque, Luis Suárez, numa reedição muito particular de La mano de dios (foto: AFP) de Maradona, e Loco Abreu, o irreverente cobrador de pênaltis. Essa Copa do Mundo está longe de ter um futebol que encha os olhos de contentamento, mas certamente tem provocado emoções devastadoras.

segunda-feira, junho 28, 2010

Não foi muito difícil

Como é timida essa Holanda. É claro que não dá para comparar o time atual aos finalistas de 1974 e 1978, mas é preciso dizer que o futebol atual é, no mínimo, menos sofisticado. O primeiro gol de hoje, iniciado por lançamento de Sneijder e drible + finalização de Robben, foi espetacular. Mas logo Van Bommel diminui a distribuição de bolas aos mais talentosos do time, o capitão Bronckhorst passou a administrar a bola no campo de defesa, e a atmosfera ofensiva desapareceu. Igualzinho à Itália. Quando é a Itália, tudo bem, todo mundo compreende, esse é o jogo deles. Se é a Holanda, não tem graça nenhuma. A Eslováquia, que jogou com o habilidoso -- mas contraproducente -- Vladimir Weiss, filho do técnico Vladimir Weiss, que por sua vez é filho de Vladimir Weiss, também ex-jogador e ex-técnico... Calma, vou começar tudo de novo! A Eslováquia chegou perto do gol, porque o adversário recuou, e isso mesmo sem uma boa apresentação de Hamsik. A Holanda conseguiu mais do que isso, e fez o segundo graças a Kuyt, com a assistência, e Sneijder, com o gol. Aliás, Sneijder é o grande destaque da seleção nesta copa, um dos jogadores que mais tem me agradado no mundial. Vittek, de pênalti, se igualou a Higuain na artilharia do torneio, pois Stekelenburg está apoiando o aumento da média de gols por jogo na copa da África, e fez um pênalti tolo no centroavante -- Roberto Rosetti e sua equipe de arbitragem, reprovando o gol inglês mal anulado por Jorge Larrionda, validaram o gol de Tévez ontem, uma atitude que também comprova a preocupação de alguns mediadores com a quantidade de gols.

O Chile começou mandando no jogo. Nos primeiros 5', os brasileiros mal tocaram na Jabulani. Depois, o Brasil passou a comandar o jogo, mas sempre procrastinando as jogadas ofensivas, voltando o jogo para Gilberto Silva, e este recuava para Lucio, Juan e por fim Julio Cesar. Um jogo dos mais chatos de se assistir. Sem conseguir vencer destravar o cadeado chileno no meio de campo, Lucio, pouco lúcido como sempre, tomava a bola para si, driblava dois, três meias adversários e enfim distribuía o jogo para os laterais -- que jogaram muito mal, de novo -- ou para Kaká e Robinho. Os dois jogaram, digamos, o suficiente. É que o Chile não conseguiu manter a pressão sobre Gilberto Silva e Ramires por muito tempo, e o futebol dos nossos ofensivos começou a aparecer -- ainda que timidamente. Aliás, os volantes também jogaram bem, muito bem -- eu achei. Juan marcou de cabeça. Quatro minutos depois, Robinho e Kaká finalmente entenderam que é sempre melhor tentar o passe fácil, em vez do toque de letra, de calcanhar, do gracejo, e deixaram Luís Fabiano livre para driblar Bravo e fazer o terceiro dele na competição. Pobre Chile. Voltou para o segundo tempo tramando alguma coisa no ataque, se arriscando sem medo de levar mais gols. Bielsa botou o time pra frente, Suazo enfim entrou no jogo, mas não deu. Quero dizer, o placar de 3 a 0, alcançado com o gol de Robinho (foto: AFP/Terra) -- o primeiro em mundiais --, assistência de Ramires, poderia ter sido mais tímido -- um 2 a 1 --, porque o Brasil não jogou isso tudo, e o Chile não jogou tão mal. Nas quartas, Brasil x Holanda. Galvão Bueno disse que será um jogo "de alta decisão". Argentina x Alemanha também. Acho que temos uma Copa do Mundo.

quinta-feira, junho 24, 2010

La peggior Italia di sempre

Lippi tomou a cruz para si, mas a culpa não é só dele. A Itália, desde o empate contra o Paraguai, não mostrou futebol para passar da primeira fase. Pode, e deve, reclamar dos erros de arbitragem, do gol ilegal da Nova Zelândia, do gol mal anulado de Quagliarella, mas não pode, como seleção tetracampeã do mundo, dizer que não se classificou por causa das falhas arbitrais. Com um futebol que lembrou muito o apresentado pela França, a azzurra teve no quase gol contra do zagueiro Skrtel a melhor chance dos primeiros 45'. A Eslováquia marcou com Vittek, em erro de passe absurdo de De Rossi. Aliás, o sistema defensivo italiano, respeitado durante décadas, foi vergonhoso durante a primeira fase. Cannavaro (foto: Ryan Pierse/FIFA via Getty Images), o melhor do mundo em 2006, pode ser apontado, sem exagero, como um dos piores dessa fracassada equipe de 2010. Quagliarella, Maggio e Pirlo mudaram um pouco a cara do ataque no segundo tempo. Talvez não o bastante. Vittek não desperdiçou a segunda chance clara que teve de marcar e ampliou aos 28'. O desespero tomou conta dos atuais campeões. Di Natale descontou, Quagliarella teve um gol anulado equivocadamente, Skrtel tirou uma bola em cima da linha, e Kopunek enterrou fundo as esperanças de classificação adversária. Quagliarella, lembrando os tempos de belos gols com a camisa da Sampdoria, conseguiu descontar com um gol sublime. Mas sublime mesmo foi o feito da Eslováquia, que, na primeira copa como país independente, consegue qualificação às oitavas. E no melhor jogo do mundial.

Agora, rapidinho, vamos aos outros jogos de hoje. Paraguai 0x0 Nova Zelândia. Enquanto a outra partida do grupo foi a melhor do mundial, essa deve ter sido a pior. O Paraguai não pode nem pensar em repetir o futebol de hoje contra o Japão, ou vai ser desclassificado com merecimento. Camarões 1x2 Holanda. Eto'o marcou dois gols no mundial, os únicos de sua seleção. O resto do time é escabroso. A Holanda deve alcançar as quartas-de-final, e eu, sinceramente, espero que o futebol melhore com a entrada de Robben, a exemplo da partida de hoje. Dinamarca 1x3 Japão. Pensei que os dinamarqueses venceriam os japoneses. Mas Honda e cia jogaram um futebol incrível, de muita solidez defensiva e sobriedade ofensiva. Sem falar na habilidade do artilheiro, que entortou o zagueiro dinamarquês bonito antes da linda assistência para o terceiro gol. Japão e Coreia do Sul, repetindo 2002, conseguem se classificar juntos para a fase final. Mas, dessa vez, o Japão deve ir mais longe.

quarta-feira, junho 23, 2010

What a hit!

Eslovênia, líder do grupo C até o início da rodada final, nem se classificou. Os Estados Unidos venceram a Argélia pelo placar mínimo, com gol de Donovan (Kevork Djansezian/Getty Images) aos 47' do segundo tempo. A Inglaterra repetiu o placar norte-americano e por pouco não foi desclassificada pelos supreendentes contra-ataques eslovenos. Os norte-americanos ainda terminaram como líderes da chave e vão enfrentar Gana nas oitavas. Os ingleses têm encontro marcado contra os alemães -- e a Alemanha, mesmo ainda muito jovem, é um time mais competitivo; aposto nela (aposto mentalmente, claro). 

Os Estados Unidos foram, novamente, prejudicados pela arbitragem. O gol-anulado-de-hoje foi de Dempsey. Mas os norte-americanos estão apresentando um jogo de grande competência -- apesar da imensa quantidade de gols perdidos: em todas as três partidas da primeira fase, enfrentou situações adversas e se superou. Acho que chega às quartas. Yes they can!

A Alemanha jogou um futebol morno demais contra Gana. Sorte dela que os africanos ainda não aprenderam a finalizar em direção ao gol. Ozil, num chute muito bonito de fora da área, marcou o único tento da partida. Ele não é craque, mas poderá ser se realizar finalizações parecidas contra os ingleses. Mesmo perdendo, Gana avança mais uma vez para a fase final de um mundial e se consolida de vez como a principal seleção africana dos últimos quatro anos. A Sérvia, a equipe mais irregular do grupo, decepcionou. A Austrália não repetiu 2006, mas deixou boa impressão. Por enquanto, nenhuma zebra deu as caras na rodada final.

terça-feira, junho 22, 2010

O começo do fim

O fracasso da França era inevitável. A África do Sul só não virou o primeiro tempo com mais do que dois gols à frente porque Parreira tem nas mãos um time fraco e de pouquíssimas opções ofensivas. Na partida que marcou a primeira eliminação de um país-sede na primeira fase de um mundial, a crise francesa só piorou com a derrota e a previsível eliminação. Depois do 2 a 1 -- em 2002, a equipe campeã de 1998 não marcou nenhum gol, mas a situação da época não pode ser comparada com a atual --, Parreira tentou trocar cumprimentos com Domenech, mas foi recebido com hostilidade pelo já ex-técnico francês. Não digo que o futuro treinador, Laurent Blanc, terá uma jornada fácil com um elenco desgastado e perturbado como esse. Mas tenho quase certeza de que boa parte da crise será resolvida com a saída do insólito Domenech (foto: Peter Steffen/EPA).

No jogo que realmente valia alguma coisa no grupo A, o Uruguai venceu o México e, olha, venceu com propriedade, em estádio lotado com maioria mexicana. A defesa não sofreu gols na primeira fase da competição, e o ataque, comandado por Forlán, mostrou um otimismo que não se via há tempos na celeste. Mereceu ser líder do grupo. O México tem uma boa seleção, mas talvez se perca em meio à excessiva badalação em torno dos jogadores, que não jogam essa bola toda como dizem. Como em 2006, vai enfrentar a Argentina e corre sérios riscos de eliminação diante do poderoso ataque de Maradona. Seria a quinta eliminação seguida na fase de oitavas-de-final. O Uruguai pega a Coreia do Sul, que empatou com a Nigéria em um gratificante 2 a 2 -- gratificante para a torcida sul-coreana, porque os nigerianos nunca vão esquecer as chances incríveis desperdiçadas pela seleção, especialmente uma de Yakubu, a menos de dois metros de um gol escancarado.

A Argentina enfrentou uma Grécia preguiçosa, teve dificuldades no primeiro tempo, mas enfim assegurou a vitória no segundo, liderada por Messi, que hoje jogou com a braçadeira de capitão. Ele não marcou -- até Palermo marcou! --, mas, como nas outras duas partidas, foi o melhor em campo -- sou eu que estou dizendo isso, não conferi as informações pós-jogo da Fifa. Essa Argentina joga o futebol que todo mundo quer ver e, se continuar assim na fase final, pode levar essa taça fácil, fácil. A não ser que a defesa resolva mostrar a fragilidade que nós, brasileiros, estamos loucos para ver.