Google

quinta-feira, setembro 27, 2007

O fim de um reinado

- Foi essa a frase pensada por muita gente quando foi ouvida a bombástica notícia da saída de Mourinho do Chelsea. De início, logo não pude parar de pensar em sensacionalismo da imprensa britânica. Mas a saída do português foi, realmente, algo verídico. É impossível negar o fator surpresa deste fato, mas, quem acompanhava o dia-a-dia de Mourinho no Chelsea sabia que o casamento não duraria por muito tempo, ainda mais depois do fracasso da última temporada.

A saída
- Na noite de quarta-feira, Mourinho compareceu ao lançamento do documentário Blue Revolution - The inside story (A revolução azul - por dentro da história). Mesmo com os problemas da atual temporada, a noite parecia não reservar nada de novo para o Chelsea.
- Madrugada em Londres, noite em Brasília. O anúncio da saída de Mourinho saiu quando os torcedores do clube ainda estavam dormindo. A BBC publicou a novidade primeiro. Depois, o site do clube fez o anúncio oficial. Era o fim da relação de José Mourinho com o Chelsea. Ele havia chegado em 2004 e ajudou a equipe a conquistar o Campeonato Inglês depois de mais de 50 anos de espera. E não foi apenas um título. Mourinho saiu da equipe com mais um campeonato nacional no currículo, duas Copas da Liga e uma Copa da Inglaterra.
- Na manhã de quinta-feira, o mundo todo já sabia da notícia. Mourinho foi ao campo de treinamento do clube para despedir-se dos seus antigos comandados. Não muito tempo depois, uma declaração do clube anunciava o nome do sucessor: o israelense Avram Grant, que era diretor de futebol do Chelsea e ex-técnico da seleção de seu país. Ele havia chegado a Stamford Bridge em julho deste ano, na pré-temporada. Grant trabalhou também como diretor-técnico do Portsmouth desde 2006, e chegou a Londres para trabalhar ao lado de Mourinho e nas divisões de base. Amigo de Roman Abramovich e de personalidades importantes do futebol britânico, como Sven-Goran Eriksson, técnico do Manchester City, Grant chegou ao clube rodeado de elogios (na foto acima, Grant em sua chegada ao clube: BBC).

Os (possíveis) motivos
Relação ruim com Abramovich - Mourinho chegou ao Chelsea em 2004, como parte de um grande investimento de Roman Abramovich, um desconfiável investidor russo que queria fazer dinheiro no futebol. Nas primeiras duas temporadas, a relação entre os dois era fria, neutra, até demais. Depois do sucesso de duas conquistas na Premier League, Abramovich decidiu alçar vôos mais altos. Contratou Ballack e Shevchenko para a temporada passada, jogadores que não eram da preferência de Mourinho. O russo, desta vez, queria conquistar a Europa, sem deixar o futebol bonito e elegante de lado.
- Mas as coisas desandaram dentro de campo. Mourinho não conseguiu, até o momento em que saiu do clube, acertar os dois jogadores na equipe titular. Quem sofreu foi o esquema tático, muitas vezes sacrificado para agradar o dono do clube (e do dinheiro também). Mas o português não deixava por menos. Fazia questão de mostrar insatisfação com a estrutura de trabalho e com as constantes interferências da parte administrativa.

Divisão de funções - Avram Grant chegou ao Chelsea muito valorizado. Mourinho sentiu-se ameaçado desde a chegada do israelense, com quem foi obrigado a compartilhar funções de ordem técnica. Não é novidade que Mourinho gosta de ser soberano em seu ambiente de trabalho, ainda mais quando o assunto envolve decisões táticas. Grant, eu suspeito, foi contratado para dar mais segurança a Abramovich quanto às decisões dentro de campo.
- Apesar de ser o homem que tomava as decisões, Mourinho começou a perder terreno para um amigo pessoal de Abramovich. Novamente, o russo interferia no trabalho de José Mourinho.

Começo ruim de temporada - O Chelsea não vinha jogando bem desde a temporada passada. Além da ineficiência tática da equipe, os insistentes desfalques de Terry e Ricardo Carvalho na zaga atrapalharam o desempenho do clube. O Chelsea viu sua hegemonia nacional ruir frente ao impetuoso e revigorado Manchester United.
- No último jogo de Mourinho à frente do Chelsea, a equipe tropeçou em casa diante do modesto Rosenborg, da Noruega. O empate em 1 a 1 não foi um bom começo na estréia da Liga dos Campeões (na foto acima, Mourinho comanda o Chelsea pela última vez: BBC). O resultado foi o terceiro seguido sem vitória dos blues (nas partidas anteriores, um empate sem gols em casa contra o Blackburn e uma derrota por 2 a 0 para o Aston Villa). Abramovich não estava nada feliz com o início ruim de temporada do clube.

O futuro do Chelsea
- Se as coisas andavam realmente conturbadas no Chelsea, porque a diretoria não decidiu dispensar o treinador, que ainda tinha três anos de contrato, antes do início da temporada? Ou porque não esperou para demití-lo no fim da temporada? Uma saída, assim, no início da temporada, desestabiliza qualquer ambiente de trabalho e compromete os planos e objetivos do clube.
- O futuro do Chelsea é incerto. Não há mais um técnico da categoria de Mourinho disponível no mercado. Avram Grant é apenas um tapa-buraco, que deve permanecer pelo menos até janeiro - apesar dos contatos do clube com o holandês Guus Hiddink, não há nada confirmado. E o israelense começou mal em sua estréia como treinador. Perdeu por 2 a 0 para o Manchester United e deixou a equipe mais longe das primeiras posições - o Chelsea está em sexto.
- A comissão técnica do clube, que foi toda ela levada com Mourinho, também demorará para ser reformulada. Mesmo com sinais e prognósticos apocalípticos para esta temporada, o Chelsea deve terminar bem, não como campeão da Liga dos Campeões, mas bem para um time que perdeu o seu principal protagonista dos últimos anos.

O futuro de Mourinho
- O português de 44 anos disse à imprensa portuguesa, ao chegar a sua terra natal na noite de ontem, que quer aproveitar a família e viajar com seus pais. Nas palavras dele, "agora quero viver fora do futebol". Claro, apenas por algum tempo. Ele mesmo não sabe quando irá voltar ao trabalho. "Não sei se volto daqui a uma semana, dentro de um mês ou de um ano", completou. Mas Mourinho disse ainda que ficará atento ao futebol, acompanhando os campeonatos europeus. E ele terá tempo e dinheiro de sobra para aproveitar as férias não programadas. A indenização, segundo a imprensa portuguesa, pode chegar aos 25 milhões de euros.
- Sobre futuros clubes, ele disse que gostaria de trabalhar no futebol italiano ou alemão. E descartou voltar ao futebol português ou assumir a seleção portuguesa - depois do incidente envolvendo Scolari, o comando da seleção pode ter outro nome.
- Quem sai perdendo nessa novela é o Chelsea: 25 mi de euros e o melhor treinador da Grã-Bretanha nas últimas duas temporadas. Mourinho certamente terá oportunidade de fazer história em outro lugar (no comando do Chelsea: 185 partidas, 124 vitórias, 40 empates e 21 derrotas; foto acima: AP/arquivo BBC).

2 Comentários:

Blogger Gerson Sicca disse...

Time com dono é isso: o cara fica desgostoso com o técnico e manda ele embora. O Abramovich achou que era só meter dinheiro que ganharia a liga dos campeões fácil. Mas a coisa não é bem assim. Tem muita cobra criada na europa.

27/9/07 21:11  
Blogger André Augusto disse...

Excelente panorama!
Mas a saída dele era meio que esperada...só veio numa hora ruim para o clube...

Abraço!

1/10/07 13:49  

Postar um comentário

<< Home