Na final do Pan, seleção feminina dá show no Maracanã

- Notou alguma sonoridade no título acima? Não coloquei apenas para ficar 'bonitinho" ou para dar ênfase à conquista do futebol feminino no Pan. O bom futebol de Marta e Cia foi um verdadeiro show, um espetáculo de futebol, com rara sincronia e beleza, como há tempos não vemos nos jogos realizados no palco mais importante do futebol brasileiro. As adversárias eram as estadunidenses, campeãs da primeira edição do futebol feminino nos Jogos, em Winnipeg-1999, que foram para o Rio com um time B. Coisa que não tira os méritos da nossa seleção. As nossas meninas fizeram uma campanha irrepreensível, irrefutável, impecável, e golearam as adversárias, que nos derrotaram na final olímpica em Atenas, por 5 a 0. Faltam adjetivos para qualificar um time que anotou 33 gols em 6 partidas e não sofreu nenhum. Faltam palavras para qualificar Marta, a melhor jogadora do mundo.

- A alagoana, que atua no futebol sueco, marcou 12 gols na competição. Além dos gols, a atacante teve atuações memoráveis, como na goleada sobre o Canadá, onde foi às redes do Maracanã por 5 oportunidades. E o seu nome não será eternizado apenas por suas belas jogadas. Depois da conquista do título, Marta se tornou a primeira mulher a ter seus pés na calçada da fama do estádio, permanecendo ao lado de verdadeiro deuses do futebol para sempre (foto abaixo: Reinaldo Marques/Terra). Enquanto em seu clube, o Umea, ela carrega o título de única craque, na seleção brasileira, ela é seguida de perto por outras boas jogadoras, como a atacante Cristiane, as meias Daniela Alves e Formiga e a lateral Rosana, que ajudaram o Brasil a conquistar o bicampeonato do futebol pan-americano, salvando o futebol brasileiro no Pan. A seleção dos homens, que foi para a competição com uma equipe sub-17, foi eliminada ainda na primeira fase (na foto acima, Marta é carregada por Daniela na comemoração de gol: Reinaldo Marques/Terra).
- Fora de campo, infelizmente, as nossas heroínas perdem de goleada para a desorganização e para o desinteresse dos dirigentes do nosso futebol. Ainda não há uma liga organizada para mulheres no país - os bons clubes, como o Saad, de São Paulo, e o Botucatu, que juntos cederam três atletas à seleção, vivem de competições à nível regional. A grande maioria delas "cava" seu espaço em clubes estrangeiros. "Como vou vir jogar no Brasil se não tem uma liga? Se tivesse a estrutura aqui que tem lá fora voltaria correndo", disse Marta na entrevista coletiva, desabafando sobre a falta de estrutura no país. Desde a primeira boa geração do futebol feminino, que tinha Cici, Kátia Cilene e Pretinha, as últimas duas participaram do Pan do Rio, as mulheres lutam para ter um mínimo de condições para praticar o esporte com liberdade e apoio. Mesmo com as conquistas recentes, o ouro no Pan de Santo Domingo - 2003 e a prata em Atenas - 2004, dá pra notar que a CBF dá pouca (nenhuma) importância para o crescimento do futebol feminino. Elas deveriam ter, além de uma liga nacional regular, uma confederação própria, distinta do futebol masculino. Se os cartolas estão preocupados com lucro, basta ver a quantidade pessoas que acompanharam os jogos da seleção feminina no Rio de Janeiro. Porém, as mudanças ficam apenas nas promessas, como declarou a goleira Andréia, na coletiva após o jogo. "É sempre assim. Quando o futebol feminino vai bem em uma competição surgem as mesmas reclamações e do outro lado vem as promessas".
- Quantos títulos essas meninas terão que conquistar para que os dirigentes dêem a atenção devida e merecida para o futebol feminino? Será puro desdém dos comandantes da bola, ou um machismo discarado? Mesmo estando no país do futebol, muitos ainda vêem as mulheres como meras amadoras no esporte. Ainda bem que, dentro de campo, elas provam o contrário, deixando para a cartolagem apenas o título da vergonha e da indignação.